Ajustando as contas em tempos de crise

2 set 2016

 

Com a economia brasileira em crise, o número de endividados aumenta a cada dia e é fundamental ajustar as contas para enfrentar a turbulência. Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) de maio de 2016, realizada pela Confederação Nacional do Consumidor de Bens, Serviços e Turismo (CNC), 58,7% das famílias estão endividadas, 23,7% encontram-se com dívidas ou contas em atraso e 9% não terão condições de pagar. Houve uma piora nos números, pois em maio de 2015, 21,1% encontravam-se com dívidas ou contas em atraso e 7,4% não tinham condições de pagar. O número de famílias que se declararam muito endividadas aumentou de 12,5% de 2016, para 14,9%, em maio de 2016. De acordo com estimativa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), em maio de 2016, há 59,25 milhões de consumidores com o nome negativado (nome sujo por conta de inadimplência). Comparando-se os dados com o ano passado, houve um aumento de 4,26% no volume de brasileiros inadimplentes. A Pesquisa de Endividamento do Consumidor da FECOMÉRCIO Minas apontou que a inadimplência em Belo Horizonte alcançou o pior resultado em 2015, já que 56,7% dos entrevistados estavam com pagamentos em atraso há mais de 90 dias.

Entre os taxistas, a situação do endividamento também é preocupante. Segundo a pesquisa Perfil dos Taxistas 2016, elaborada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), 49,4% dos taxistas possuem dívidas a vencer, entendendo-se por dívida, financiamento de algum bem (imóvel, caminhão, carro, eletroeletrônicos), empréstimos bancários ou com outras entidades, cartão de crédito, não considerando contas de água/luz/telefone ainda não vencidas, mensalidades escolares como dívidas. Das dívidas dos taxistas, 16% se referem a valores superiores a 21 mil reais.

O stress financeiro costuma causar problemas de saúde. Segundo levantamento realizado pela CNT, 73,6% dos taxistas estão acima do peso e 16,7% já tiveram ou trataram problemas de pressão alta. Então, cuidar bem das finanças faz bem para a saúde física e mental também. Leia o texto a seguir para saber como realizar um bom planejamento financeiro, evitando o endividamento excessivo e vencendo o superendividamento.

O primeiro passo para realizar um bom planejamento financeiro é reunir a família e estabelecer metas de vida. É preciso refletir sobre as necessidades e desejos e estabelecer as prioridades. A seguir, elabore uma planilha detalhada com despesas e receitas durante o período de um ano. No caso de autônomos, como os taxistas, cuja renda é variável, deve-se ser cauteloso ao se estimar a receita, pois nem sempre a renda é gerada no mesmo montante esperado. Uma vez elaborada a planilha, deve-se analisar cada item de gasto para verificar em cada conta o que pode ser cortado ou reduzido e fazer os devidos ajustes. Na última linha da planilha, deve constar o saldo líquido que corresponde as receitas menos as despesas, o ideal é que o saldo líquido seja sempre positivo. Especialmente aqueles que  contam com receitas variáveis devem possuir reservas financeiras por dois motivos: para emergências e para saldar as contas nos meses em que as receitas forem menores.

Os superenvididados apresentam uma situação financeira difícil, mas que na maioria das vezes têm solução. Nesse caso, devem-se listar todas as dívidas e analisar a viabilidade dos pagamentos. Deve-se priorizar o pagamento das dívidas mais caras como as do cartão de crédito e cheque especial. Uma boa alternativa é contrair um empréstimo menos caro para quitar os empréstimos mais caros. Contudo, é essencial fazer essa análise com muito cuidado, pois aquisição de empréstimo é um assunto sério. Só devemos contrair dívidas que podemos pagar. Cabe aqui esclarecer a questão da abusividade de juros. Os juros brasileiros estão entre os mais altos do mundo, mas são permitidos. Taxas de juros de contratos de empréstimos e financiamentos de veículos e outros devem ser questionados através de ações judiciais e cabe a um especialista sério como um economista ou advogado, por exemplo, analisar caso a caso sobre a viabilidade ou não do ajuizamento de uma ação para questionar juros.

Finalizando, cabe aqui ressaltar que as crises sempre vêm e vão. Essa crise como as outras também vai passar. Cabe a cada um de nós manter a cabeça fria, fazer os ajustes necessários e na medida do possível, aproveitar as opções de lazer de baixo custo. Lazer não é luxo, é questão de saúde mesmo. Aproveite o final de semana com sua família.

 

Adriana Fileto (Economista, Consultora e Educadora Financeira)

www.adrianafileto.com.br